Confissões ao Pôr do Sol 

por Rafaela Matos Martinelli Raimundo

Dedico estes versos

ao teu corpo, celeste

grandiosidade natural

de um vislumbre terrestre 

Acompanha-te a brisa,

a melodia dos pássaros

causando-me a calma que sobrepõe o tempo 

Tempo! 

Não posso demorar-me

Teu espetáculo tão pouco durará

mas antes de esconder-te 

suplico que me ouças

ouça meus versos 

Iluminando timidamente a sala

doura minha poesia 

Tanto me comparo a ti!

Tua beleza tão deslumbrante

ontem esbanjada sem escrúpulos

hoje perpassa timidamente as nuvens 

Ah, nobre corpo celeste,

como almejo os atributos

dos poetas já consagrados,

por tua luz já preenchidos

Como vislumbro a luminosidade

de linhas tão estimadas! 

Tua luz agora é rosa

Será que meus anseios

um dia mudarão de cor? 

Substituída pela luz artificial,

um único tom, a mesma frequência

A tua oscilação foi acortinada 

Talvez fosse necessário

que se mostrasse o feixe sintético

ante toda sua grandiosidade

para que eu, enfim, compreendesse

que o seu esplendor

não cabe em um único dia

tampouco em um único poema 

Talvez esse seja o segredo

compartilhado entre os grandes poetas:

entendem que os versos devem ser dosados

Talvez a artificialidade dos homens

não suportasse o fulgor

da totalidade de sua arte