A vivência na faculdade por parte dos veteranos

 

Sabemos que sonhar com entrar na Universidade e estar nela de fato são duas coisas diferentes. Criam-se expectativas a partir do momento em que se lê o próprio nome na Lista de Aprovados, e em seguida, imaginamos as diversas possibilidades que o curso pode nos oferecer. Pensando nisso, decidimos perguntar para alguns veteranos sobre suas impressões, experiências e perspectivas futuras, a fim de preparar os calouros para o que os aguarda, e de exemplificar os caminhos que um beletrista pode tomar.

 

As primeiras impressões

Dois dos veteranos com quem conversamos apontaram pontos positivos como: o primeiro contato inesperado e marcante com a Linguística, a diversidade de pessoas no curso que promove diversificação nas relações entre os alunos, a ampla área disponível para pesquisa e, claro, a variedade das línguas oferecidas para habilitação, que possibilitam carreiras variadas. Porém, como sabemos, nada é perfeito, e foi exatamente o que outros veteranos apontaram na entrevista.

Os relatos evidenciam a falta de valorização do curso pela má estrutura – que se dá pelo fato de uma quantidade excessiva de alunos ocuparem salas com capacidade insuficiente. Esse problema, inclusive, exigiu uma reestruturação através do empréstimo de salas de outras faculdades, deixando claro o descaso sofrido pela Letras e a falta de investimento em comparação a outros cursos.

 

As dificuldades em estudar no curso mais populoso da USP

Todos relataram uma insuficiência no número de professores em relação à quantidade de alunos matriculados, fator que atrasa o tempo da graduação, já que muitas vezes não é possível se matricular em matérias obrigatórias no tempo ideal, por não haver vagas suficientes nas mesmas. Tal situação teve uma piora sensível com o retorno presencial do curso após a melhora do quadro da pandemia, uma vez que, graças à vacinação em massa da população, o corpo docente da USP optou pelo retorno de aulas presenciais. 

Além disso, houve um esquecimento sobre o retorno 100% seguro em nosso curso, e, pior ainda, uma desconsideração pela necessidade de turmas que supram a demanda ainda maior da conclusão da graduação no período ideal, já que muitos alunos destrancaram o curso neste começo de semestre.

 

Preocupações e prazeres de ser estudante de Letras

Todos os avaliados mostraram preocupação sobre os mesmos aspectos: o desemprego e o futuro incerto do profissional de Letras. Tal preocupação se relaciona com os prazeres, uma vez que todos escolheram a graduação por afeto: enquanto uns disseram que a arte literária foi essencial para a vida profissional tão sonhada, outros disseram que a diversidade e o aprendizado com diferentes histórias de vida foram a motivação perfeita para a escolha do curso.

 Ainda que tenham sido essas as motivações, e que todos o tenham escolhido cientes das dificuldades em relação ao mercado de trabalho, o sonho de obter uma carreira estável – principalmente fora da área da educação – é cada vez mais difícil de se alcançar, o que explica o porquê de muitos estudantes abrirem licenciatura mesmo que idealmente não quisessem: empregos nessa área são menos escassos do que em outras (ainda que os salários muitas vezes não sejam adequados).

 

O olhar pela dificuldade daqui a 10 anos

Apesar das dificuldades enfrentadas ao longo da graduação, todos os entrevistados mostraram-se agradecidos pelos aprendizados. E deixo gravada aqui uma expressão perfeita de um deles sobre a graduação: “caótica, mas proveitosa”.

 

Sobre o sentimento de pertencimento à Universidade

Grande parte dos entrevistados dizem se sentirem pertencentes à Universidade, apesar de considerarem o ambiente hostil em diversos pontos, o que se deve aos longos trajetos que precisam percorrer até o campus, à falta de recursos financeiros e até aos problemas em relação a preconceitos, que podem dificultar a permanência e a convivência estudantil.

 

Essas dificuldades, infelizmente, ocorrem principalmente pelo ambiente estudantil da USP ser, no geral, elitista, pois ainda que a Universidade seja pública, muitos estudantes de baixa renda que não moram na capital, mas na periferia, sentem que o espaço não lhes pertence. Tal sentimento de invisibilidade é válido, já que não há incentivos reais para que estes estudantes permaneçam na Universidade, ainda que a ela tenham direito.

 

O primeiro estágio

Os primeiros estágios de grande parte dos entrevistados foram na área da educação: dois dos entrevistados citaram programas estudantis como o PAE (Programa de Aperfeiçoamento de Ensino) e o Programa Pedagógico para Licenciaturas do Educativo do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros). Este último, no entanto, pertence à pós-graduação. Ambos os alunos mostraram contentamento com as experiências e aprendizados – além da necessidade de formar um bom currículo para que possam fazer uma Iniciação Científica (IC) posteriormente.

Outra entrevistada compartilhou sua primeira experiência como monitora voluntária nas aulas de língua coreana: apesar de não remunerada, essa experiência foi importante para ela na composição de um currículo. 

 

Pretensão de Iniciação Científica ou Projeto PUB

Enquanto alguns entrevistados expressaram a intenção de fazer uma IC, outros já o fizeram. Grande parte argumentou que fazer um Projeto PUB ou uma IC é muito interessante para quem deseja seguir uma carreira acadêmica, sendo um abridor de portas para a pós-graduação, inclusive pelo contato e pelo aprendizado sobre a área da pesquisa.

 

Responsáveis: Ayssa Regina de Souza e Giovana Tomaz Eufrozino
Revisado por Daniely Ribeiro de Melo