Devolva-me o silêncio

Francivan Amorim Oliveira

Atrevidamente,
me convida.
Todavia, dia sim e dia não,
tua atrevida mente
me revida.
Você não se compadece
do meu pavor de conclusão.
Ou será pavor de reclusão da vida?

Ainda que lasciva e noturna,
a Rua Augusta continua soturna,
romântica como uma ironia de Azevedo.
Eu acertei feio com o erro.
Esbocei um retrato falado do medo
em que saiu minha cara descarada.

Os velhos me encaram e sentem pena
sabendo que sou jovem no XXI.
Circulei de ônibus a ônibus,
por coletividades individuais.
Espero. Dom dos ofendidos e humilhados.
Os telejornais noticiam
a crise econômica,
a crise política,
a crise existencial.
Não noticiam a crise da crise.
Velhices com traumas de juventude,
quando a paixão do vício é a virtude.

A madrugada augusta se quedou esquecida.
Cai uma garoa boa.
Ponho as mãos no casaco. Bocejo.

Estas avenidas cheiram a cinema e a beijo.
Você me desculpará. Você já me desculpou.
Nós nos fizemos nossa única esperança
e bastam os amores que resgatam.
Basta o amor.

“Fiquemos em silêncio. Não diga nada”.

Seus olhos me meditavam,
sua pele dizia tudo.
O dizer substancialmente mudo.
Como eu gostaria de voltarmos a falar por silêncios!
As coisas estarão no devido lugar.
Os sentimentos estarão.
Venha.
Não diremos nada.